[Resenha] História do novo sobrenome, de Elena Ferrante (@editorabibliotecaazul @GloboLivros)




Título: História do novo sobrenome
Autor(a): Elena Ferrante
Editora: Biblioteca Azul
Páginas: 472
Ano: 2016
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Elena Ferrante, pseudônimo da consagrada escritora italiana de A amiga genial, lançará no Brasil, pela Biblioteca Azul, o segundo volume da tetralogia napolitana. Recentemente indicada ao Man Booker Prize 2016 por Story of the Lost Child, último livro da série, a autora, firme na decisão de não revelar sua real identidade, se tornou um fenômeno literário mundial após a publicação, em 2011, do primeiro dos quatro romances que formam a saga ambientada na Nápoles do pós-guerra.

Best-sellers nos Estados Unidos e na Europa, as obras de Ferrante contam a história da forte ligação das amigas Elena Greco, narradora da história, e de Rafaella Cerullo, mais conhecida como Lila, percorrendo todas as fases da vida das duas, nascidas e crescidas no subúrbio de Nápoles, nos anos de 1950. Após o repentino desaparecimento de Lila, aos 66 anos, Lenu repassa a vida da amiga, explorando os ecos desta em sua própria existência.

Envolvente e com a costumeira cadência impecável, a narrativa de História do novo sobrenome dá espaço para reflexões profundas a respeito da subjetividade, da sexualidade, do amor e, sobretudo, do papel imposto à jovem mulher em meados do século XX ― contraponto construído entre as duas personagens centrais, às voltas com as restritas possibilidades de escolha, mas ao mesmo tempo surpreendidas pelas descobertas acerca de suas próprias capacidades e seus limites.

Lila, que teve os estudos interrompidos por questões familiares – muito cedo teve que trabalhar com o pai e o irmão, se casou cedo. Lenu, por sua vez, consegue se desvencilhar do destino certo das moças da época e não se casa, mas passa a se preparar para a faculdade, levando consigo as marcas definitivas da complexa relação de amizade com Lila – admiração misturada a identificação.

Os personagens vão ganhando espaço na história, não apenas nos acontecimentos cotidianos relatados por Lenu, como também nos comentários subjetivos da narradora. Lenu, sem poupar de nada o leitor, escancara cenas de casamento, de adultério, de supostas e reais traições dentro de uma amizade, mas também os pequenos momentos em que parece acertar as contas com ela mesma.
Atenção: esse texto pode conter spoiler do primeiro livro da série Napolitana

Nesse segundo livro transitamos pelo fim da adolescência das protagonistas, com Lina percebendo enfim o quanto não tem controle sobre a própria vida ao mesmo passo que Lenu descobre que pode se emancipar do poder que Lina erradia sobre ela e conseguindo assim criar novas narrativas sobre isso.
O que mais me pega na construção de romance de Elena Ferrante são as imperfeições acentuadas de cada personagem, ninguém é bom ou ruim, todos são extremamente humanos e possíveis. Algo que não fica resumido só as pessoas pobres, mas as mais endinheiradas também, todos tem lados obscuros que escondem da maioria e demonstram em momentos oportunos.

Começou naquela noite o longo, conturbado período que desembocou em nosso primeiro rompimento e numa longa separação.

Eu consigo sentir raiva e amor pelas protagonistas na mesma proporção, mas me identifico com elas por quase todo tempo. Eu teria decisões diferentes em noventa por cento do tempo, mas elas me cativaram a ponto de entender até as piores escolhas que fizeram. A amizade das duas é extremamente nociva para ambas, mas por algum fio que ainda não ficou explicado pra mim, elas sempre permanecem presas uma a outra, uma exerce sempre uma força desmedida sobre a outra desde a menção do nome, até os momentos em que se veem.

"Os que estão em baixo quere, ir para cima, os que estão em cima querem permanecer em cima, e de um modo ou de outro sempre se acaba com cusparadas e chutes na cara."

Algo que resume esse livro é a impulsividade de ambas que é movida pela paixão e pela raiva, pela vontade de fazer o que se foi privada ou até mesmo se aproximar da outra por uma experiência repugnante, só pra sentir que pertence ao mesmo momento da vida dela, para estar sempre fixada em sua história, mesmo com as escolhas as levando por caminhos bem diferentes, os de Lina sempre extremamente imprevisíveis visto a sua tempestuosa forma de ocupar seu lugar no mundo.

"Não leia livros que não consegue entender, isso lhe faz mal."
"Há tantas coisas que fazem mal."
Percebi que a própria Lenu se percebe perdida com o distanciamento inevitável que acontece entre as duas no decorrer da vida já que os caminhos que vão se desenrolando para elas, são extremamente diferentes e por muitas vezes não vão conseguir se encaixar por muito tempo, nem as pessoas vão querer que elas fiquem juntas, vão falar sobre razões que deveriam afastá-las e em momentos de fragilidade dessa relação, ambas vão acreditar nisso. Acredito que a toxicidade dessa relação delas que me fascinou me fazendo devorar os livros tão rápido.

..."Como você está bem, não tinha reconhecido, você virou outra."
Num primeiro momento fiquei contente, mas depois desanimei. Que vantagem haveria em se transformar numa outra?

Sigo arrebatada pela forma que a autora conseguiu me envolver na história dessas duas mulheres que amam e querem demais. A ambição de Lenu e a paixão pela vida de Lina, mostram o quanto supervalorizamos o certo e o errado durante a vida, quando no fim de tudo são só escolhas para a nossa própria sobrevivência. Nenhuma das duas teve o que quis, mas acaba sempre se conformando em ter o que precisa em cada momento.
 
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