Resenha: Híbridos




Título: Híbridos
Autor(a): David Thorpe
Editora: Farol Literário
ISBN: 9788536804736
Páginas: 320
Ano: 2008
Skoob | GoodReads
Johnny Online e Kestrella são híbridos, atacados por um vírus que faz suas vítimas se fundirem com aparelhos tecnológicos. Enquanto uma histeria toma conta do país, eles vivem com o medo de serem apanhados e enviados para o misterioso Centro de Reabilitação Genética, de onde ninguém jamais escapou. Uma história surpreendente de ficção científica, contada pelo premiado David Thorpe.

Como eu tenho fugido de livros que façam parte de séries e trilogias, fiquei extremamente feliz em encontrar esse livro na Bienal esse ano. Eu comprei junto com o Pedro do blog O Livreiro e li logo por ter ficado extremamente curiosa com a proposta do livro.

Imagine um belo dia você acordar em um mundo que tem um vírus que faz as pessoas se fundirem aos seus aparelhos eletrônicos (celulares, computadores, etc.). Não bastando esse problema, o governo faz de tudo para dificultar a vida das pessoas portadoras do vírus, obrigando que elas se registrem e sejam rastreadas 24 horas por dia, caso contrário são consideradas praticamente criminosas. Imaginou? Bizarro, não é? Mas é exatamente esse o cenário criado por David Thorpe

Kestrella e Johnny são totalmente opostos por ela ser rica e ter a possibilidade de ter uma vida bem confortável como uma azul - um híbrido registrado - contando com apoio de pessoas queridas, conforto de uma casa, família, etc. e ele um cinza - um sem registro - sem teto e abandonado por sua família. Apesar de todas essas situações, eles são apenas dois adolescentes afetados por uma doença que mudou suas vidas da noite para o dia.

Johnny é um rapaz tímido, extremamente inteligente com todos os tipos de tecnologias e fechado para a amizades, seus motivos ficam claros logo no seu primeiro encontro com ela. Ele faz questão de deixar claro que não quer abrir seu coração para os sentimentos, que haje apenas com a razão por achar que essa é uma forma de sofrer menos desde que adquiriu o Sinistro - nome do vírus que faz com as pessoas se fundam aos equipamentos. Já ela, por ter todo o conforto de um lar, se mostra extremamente afetiva e envolvida emocionalmente com tudo que vai uni-los a cada capítulo.
Antes de o Sinistro acabasse com a minha infância, eu costumava achar que a vida era justa. Não é bizarro que as crianças pensem assim?
Página 73
Híbridos é o tipo de livro que mexe com tudo que você acredita sobre a vida, te fazendo repensar até onde as coisas poderiam ser diferentes. O autor soube criar de uma forma bem consistente, vínculos entre a nossa sociedade atual e tudo que ele apresenta na história dele. Não é difícil você se pegar acreditando que tudo isso poderia realmente estar acontecendo e que se desenrolaria exatamente igual ao que ele idealiza.

Johnny já não tem mais fé que esse mundo possa ser bom pra ele, tudo que ele acredita é nos dados que carrega dentro de si e que precisa lutar para sobreviver. Já Kestrella, provavelmente por não ter tido o gosto de morar nas ruas e ter sido sempre bem amparada por seus pais, acredita que tudo pode melhorar se estiver ao lado das pessoas certas. Algo que pode também motivar essa visão romântica dela da situação, é sua tia Cheri que faz um trabalho que procura garantir ao menos um tratamento adequado a todos os híbridos que ela puder ajudar.

Cheri é aquela típica heroína que quer lutar pelos fracos e oprimidos a qualquer custo, que se envolve em confusões para manter seus protegidos a salvo e acredita em mundo justo para todos. Confesso que quando cheguei na parte em que ela é apresentada a Johnny, fiquei balançada pela proposta dela e pensando que ele era bobo em ser tão resistente.

Esse é um livro que te surpreende a cada capítulo. Sempre que você está próximo de entender o caminho que a trama vai tomar, ela simplesmente te surpreende e isso vai te deixando viciado, com vontade de devorar o livro pra saber o final que... bem, não é tão maravilhoso assim. Eu seria uma pessoa mais feliz se alguém me dissesse que tem uma continuação, que eu ia continuar a viver no universo dos híbridos, mas não tem continuação mesmo. É um final pra te fazer pensar nele por dias e te fazer querer mais dessa história.
Para sobreviver, eu não pensava. Ninguém falava do passado. Eu não me importava. Eu não tinha nenhum passado sobre o qual falar.
Página 205
A narrativa em primeira pessoa é dividida entre o ponto de vista de Johnny e Kestrella, intercalando um capítulo de cada um o que permite ao leitor uma visão ampla de todos os acontecimentos mesmo quando eles se separam por alguma razão. Como muitas coisas acontecem, seria impossível a história não ficar entediante se tivesse apenas um narrador por isso a narrativa é perfeita. Uma outra que me incomodou bastante além do final, foi o romance que o autor tentou introduzir que não me convenceu. Sei lá, faltou muita coisa entre o casal pra ser convincente, coisa que vão além da condição que a doença os deixou e do pouco contato físico que eles tem para se apaixonarem. Pensava sempre que se eu estivesse numa situação daquelas, nem lembraria de paixão.

A diagramação é simples, mas tem um toque de algo essencial no livro. Os capítulos são medianos mas a narrativa é tão intensa que é impossível não devorar as páginas. Recomendo a leitura apenas com a ressalva de que a decepção com o final é quase inevitável, mas com um conteúdo que te levará a várias reflexões sobre o mundo moderno e como as famílias se transformam em tempos de crise.

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