Resenha: Fahrenheit 451, de Ray Bradbury




Título: Fahrenheit 451
Autor(a): Ray Bradbury
Editora: Globo
Páginas: 256
Ano: 2012
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A obra de Bradbury descreve um governo totalitário, num futuro incerto mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instaladas em suas casas ou em praças ao ar livre. O livro conta a história de Guy Montag, que no início tem prazer com sua profissão de bombeiro, cuja função nessa sociedade imune a incêndios é queimar livros e tudo que diga respeito à leitura. Quando Montag conhece Clarisse McClellan, uma menina de dezesseis anos que reflete sobre o mundo à sua volta e que o instiga a fazer o mesmo, ele percebe o quanto tem sido infeliz no seu relacionamento com a esposa, Mildred. Ele passa a se sentir incomodado com sua profissão e descontente com a autoridade e com os cidadãos. A partir daí, o protagonista tenta mudar a sociedade e encontrar sua felicidade.

" — A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?"

Fahrenheit 451, de Ray Bradbury é um clássico, isso é inegável. Possui uma forte crítica social, assim como 1984, de George Orwell e Crime e Castigo, de Dostoyevsky. Porém, enquanto Orwell usa de um cenário distópico fictício e Dostoyevsky se baseia em um forte regionalismo, Bradbury foi aquele que mais se aproximou de nossa realidade atual como um mundo globalizado. Fahrenheit 451 é um livro mais contemporâneo hoje do que quando foi lançado. E temo que possa até mesmo ser uma previsão para o futuro.
Nele acompanhamos a história de Guy Montag, um "bombeiro" em um mundo onde todas as casas e construções são à prova de fogo. E o que faz ele, então? Ele queima livros.

Na cabeça impassível, o capacete simbólico com o número 451 e, nos olhos, a chama laranja antecipando o que viria a seguir, ele acionou o acendedor e a casa saltou numa fogueira faminta que manchou de vermelho, amarelo e negro o céu do crepúsculo.
Página 15

Ler livros é proibido. Ler um simples livro já é motivo suficiente para ser preso e ter sua casa incinerada. Escolas não os usam mais, o trabalho foi reduzido a algo mecânico, automático, robótico e todo o entretenimento é imediato e instantâneo. O mundo berra cores e explode sons para todos os lados. As pessoas olham para tudo isso, admiram tudo isso, mas não enxergam nada. Essa é a realidade de Fahrenheit 451, na qual todos acreditam estar mais felizes do que nunca, inclusive nosso protagonista.

Porém, quando Montag conhece sua nova vizinha Clarisse, uma jovem que manteve seu espírito puro em meio a tanta loucura, ele mesmo começa a questionar essa realidade. Será que é mesmo feliz? Será que realmente vive bem com sua esposa? Será que seu trabalho é realmente correto? Dúvidas e mais dúvidas começam a surgir em sua mente.

Fazendo o papel de antagonista encontramos capitão Beatty, chefe do quartel onde Montag trabalha. Diferente dos outros, Beatty parece ter ciência de tudo aquilo que passa pela cabeça de Montag, como se aqueles mesmos pensamentos já tivessem ocorrido a ele. Mas Beatty não se sente atormentado por dúvidas e incertezas. Pelo contrário, Beatty é a própria representação do caos (mal) disfarçado que o rodeia. Um homem esclarecido, culto e que entende as consequências terríveis de seus atos, mas que mesmo assim abraça e protege um sistema nascido da covardia e da comodidade. Ele é o mal consciente, aquele que não se engana quanto ao caminho escolhido. 

Deixar você em paz! Tudo bem, mas como eu posso ficar em paz? Não precisamos que nos deixem em paz. Precisamos realmente ser incomodados de vez em quando. Quanto tempo faz que você não é realmente incomodada? Por alguma coisa importante, por alguma coisa real?
Página 80

Ray Bradbury inovou não apenas na ideia, mas também na escrita de seu livro. Em muitos momentos ela é muito rápida e resumida, usando palavras simples seguidas de pontos finais (um exemplo meu: Andar. Olhar. Entrar. Sair. Andar. Deitar. Dormir.) para assim representar a rapidez e simplicidade do mundo em Fahrenheit 451. Tudo é movimento e velocidade, nada pode ficar parado aqui. Qualquer coisa que precise de uma maior apreciação é logo descartada em favor do fácil e do cômodo. 

As pessoas esqueceram como pensar. Não, não apenas esqueceram. Elas não querem mais.

A razão para Fahrenheit 451 ser um livro tão contemporâneo é justamente essa. Vivemos um início de milênio onde o pensamento está cada vez mais rápido, dinâmico, mas não necessariamente melhor. Temos menos paciência para entender as coisas e mais vontade de estabelecer padrões simples. Queremos entretenimento que não exija esforço de nossa parte. Queremos menos desafios e mais ação. Queremos nos distrair mais e deixar nossas mentes vazias, para assim nos sentirmos confortáveis com nós mesmos.

O resultado de todos esses desejos está em Fahrenheit 451, um livro excelente que eu recomendo para absolutamente todos. Ele lançara uma nova luz sobre o mundo ao seu redor. E para quem almeja ser escritora ou escritor, o posfácio e a coda são especialmente interessantes e inspiradores

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