Resenha: O Espadachim de Carvão, de Affonso Solano (@fantasycdp)



Título: O Espadachim de Carvão
Autor(a): Affonso Solano
Editora: Fantasy - Casa da Palavra
Páginas: 256
Ano: 2013
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Kurgala é um mundo abandonado por Quatro Deuses. Adapak é filho de um deles.
E agora está sendo caçado.
Perseguido por um misterioso grupo de assassinos, o jovem de pele cor de carvão se vê obrigado a deixar a ilha sagrada onde cresceu e a desbravar um mundo hostil e repleto de criaturas exóticas. Munido de uma sabedoria ímpar, mas dotado de uma inocência rara, ele agora precisará colocar em prática todo o conhecimentos que adquiriu em seu isolamento para descobrir quem são seus inimigos. Mesmo que isso possa comprometer alguns dos segredos mais antigos de Kurgala.

Admito que tive um certo receio em resenhar esse livro. A razão é que, de certa forma, conheço o autor já há anos, através de um podcast que ele mantém com seus amigos, o MRG. Por já simpatizar com o Affonso tive medo de que isso pudesse influenciar minha opinião sobre o livro, mas meu medo foi infundado. Após ler O Espadachim de Carvão em apenas quatro dias posso dizer, sem nenhum remorso, que foi uma ótima leitura.

– Bom, as Tábuas Dingirï contam que no começo de tudo, Kurgala era um enorme mar sem fim. E os espíritos de Abzuku e Tiamatu eram seus senhores, e nada mais além deles existia.
Página 67

O livro narra a jornada de Adapak, filho de um dos Quatro Deuses de Kurgala, enquanto foge por um mundo sobre o qual pouco sabe. Assim como Harry pegando o trem para Hogwarts e Frodo pisando pela primeira vez fora do Condado, acompanhamos Adapak em suas descobertas nessa terra estranha e por vezes hostil. Conhecemos mais sobre o personagem conforme ele avança pelas dificuldades e se apresenta para o mundo como um ser bom mas ingênuo, que tem dificuldade para entender como Kurgala realmente funciona.

Criar um protagonista ignorante do mundo pode até ser uma técnica clichê, mas funciona muito bem e com ela foram escritas algumas das melhores obras conhecidas. Assim podemos entrar na imaginação do autor aos poucos, de maneira confortável e prazerosa, e também aprendemos mais. Imagine o seguinte: você entrou num museu de uma cultura sobre a qual nada sabe e simplesmente começou a ver peça por peça, numa ordem aleatória. É bem provável que, ao final da visita, pouca coisa tenha sido realmente absorvida sobre aquela cultura, pois dificilmente você poderá correlacionar tudo o que viu de maneira tão caótica.

Porém, se houver alguém para guiá-lo pelas peças e explicar pelo menos o básico sobre elas, ao final do dia você terá no mínimo uma ideia geral de como aquela cultura funciona. Posso arriscar a dizer que Adapak é, ao mesmo tempo, o guia e o visitante, enquanto Kurgala é o museu. Aprendemos na mesma medida que ele, fazendo com que a narrativa flua como poucos livros conseguem.

- Vou te dizer o por quê - ela prosseguiu. - Porque nossa profissão me faz ver a realidade das coisas, entende? Nós lembramos ao mundo que não importa o quão altas nossas torres subam ou quantos livros algum intelectual pedante tenha lido; somos todos só um bando de animais. Animais vestidos de pano por cima das carcaças, mas ainda assim animais. Gostamos de nos convencer do contrário, mas só porque temos vergonha do que realmente somos capazes.
Página 204
Outro aspecto que gostei bastante em O Espadachim de Carvão foi a maneira como o autor se expressou através de seus personagens. Muitos deles existem não apenas como parte da história, mas também como parte dos pensamentos e opiniões do próprio autor. O trecho acima é um diálogo completamente desnecessário para a trama em si, mas que não deixa de ter sua importância e relevância, pois uma obra, independente do estilo, é também uma extensão dos pensamentos, opiniões e sentimentos de quem a construiu. Quando o autor/autora coloca muito de si em sua obra ela acaba parecendo pregação, e quando tira muito ela parece estéril. Affonso conseguiu medir isso com maestria. Podemos concordar ou não com o que ele pensa, mas não há como negar que seus pensamentos são perfeitamente encaixados no contexto do livro.

Minha única crítica negativa a O Espadachim de Carvão é em como os diferentes tipos de personagens foram tratados, de maneira geral. Kurgala é um mundo com raças muito diversificadas (ou alienígenas, como penso que o Affonso gosta de chamá-las) ao ponto de absolutamente tudo, desde anatomia até longevidade, ser diferente entre elas. Tudo, menos as emoções. A maneira como cada raça sente e lida com esses sentimentos é idêntica a maneira dos humanos, o que tira um pouco de sua credibilidade, fazendo-as parecer mais personagens de um desenho animado do que seres reais em um mundo real. Entendo que as diferentes raças sejam na verdade metáforas para diferentes tipos de pessoas (assim como os ETs em Distrito 9) mas com uma diversificação tão grande, bem, as vezes parece meio estranho.

Mas essa é uma crítica pequena se comparada a excelente obra que é O Espadachim de Carvão. Um livro simples com um bom ritmo que altera entre o passado e o presente, de modo a não ficar frenético. Kurgala é um mundo bem concebido com personagens cativantes, coerentes e bastante reais. Recomendo para qualquer pessoa que já tenha lido uma boa obra de fantasia e gostado. E recomendo, em especial, a versão física, que vêm com belas ilustrações no começo de cada capítulo.

Curiosidade: segundo o autor, a cultura suméria foi uma forte influência para a concepção de Kurgala, desde sua mitologia até muitos dos nomes nela utilizados.

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